Professora Sheila
Terror nos chalés
Enquanto dirigia até a casa de Logan, meu parceiro na Scotland Yard, imaginava o que ele queria, já que certa vez me chamara para ajudar a procurar suas chaves.
- Entre – disse Logan antes mesmo que eu batesse na porta.
-Bom dia, posso perguntar o que me traz aqui? – perguntei, ainda parada na frente da porta.
- Que acha de passarmos o final de semana em uma pequena pousada no meio da floresta Red Woods? Fica na cidade vizinha.
- Folga agora? Com todas essas crueldades acontecendo em Londres? – finalmente entrei.
Ele arrumava uma pequena mala de viagem, que já parecia estar sobrecarregada.
- Não, um crime. Uma turma de alunos que se formam mês que vem foram tirar uma semana de férias nessa pousada que lhe falei. Uma garota foi morta, melhor da turma, amiga de todos... CUIDADO!
Estava sentando em uma poltrona quando pulei assustada, então vi o motivo do seu grito. Um gato siamês obeso despertava de um sono profundo no sofá. Em sua coleira estava escrito “Mr. Paul G, de Koetz”. Provavelmente atrás dela estava escrito o endereço em que nos encontrávamos. Eu não virei para checar.
- Quando partimos?
- Em uma hora. Leve um biquíni – disse, com um sorriso malicioso. Fiz um gesto obsceno e fui embora.
Enquanto dirigíamos até a tal pousada fomos surpreendidos. Aparentemente a árvore no caminho havia caído com a tempestade que havia abalado a região. Desci do carro e fui em direção a ela.
Eu estava enganada, a árvore havia sido cortada propositalmente. O jeito foi pegar as duas malas pequenas e ir caminhando o resto da trilha, já que, de acordo com o mapa, aquele era o único acesso.
- Megan... esqueci de mencionar um detalhe. A garota, Mary Fox, foi encontrada no lago. Tem marcas de estrangulamento, mas isso foi apenas para que desmaiasse, ela provavelmente acordou dentro do lago e morreu afogada.
Estremeci. Tinha fobia de lagos, rios, mares ou o que quer que tivesse água e não fosse uma piscina.
Chegando lá, o dono da pousada nos atendeu com sua cara fechada, nos deu a chave do chalé 8 e, quando saímos, ficou resmungando coisas quase inaudíveis sobre um tal de Jack.
Eu não estava com vontade de ir para o quarto, então Logan levou minha mala.
Fui falar com a professora que acompanhava os alunos, a Sra. Wayne.
- Nunca gostei muito de Mary, mas quando soube de sua morte, fiquei chocada. Ela era uma boa pessoa – revelou.
- Quando a senhora soube? Mas fui informada que todos os hóspedes se depararam com seu corpo à beira do lago na saída para o café da manhã.
- E-eu... acordo mais cedo para fazer caminhadas. – algo me dizia que ela estava mentindo. Se fez a tal caminhada teria visto o corpo.
Decidi que não adiantava pensar demais, deveria perguntar aos outros. Bati na porta do chalé 7, no qual Mary estava hospedada. Quem atendeu a porta foi uma garota de estatura mediana, 1,65 de altura, aproximadamente, com cabelos cacheados como os de um anjo e ruivos vibrantes até a cintura. Era perfeita.
- Olá – disse ela abrindo um tímido sorriso. Conseguia-se ver que era o sorriso de alguém que estava sofrendo.
- Bom dia. Me chamo Megan Carter, e estou aqui para investigar o assassinato de Mary. Importa-se que eu faça algumas perguntas a você e seus companheiros?
- De jeito algum, pode entrar, os outros foram almoçar.
- E você não?
- Estou sem fome. – sentou-se em uma poltrona e começou a mexer nos cabelos, começando um projeto de trança.
- Você e Mary eram próximas?
- Sim, éramos melhores amigas... muito próximas.
Podia jurar que havia visto uma lágrima, mas não soube dizer se era de tristeza ou desejo de vingança.
- Ótimo, então você pode me dizer se ela tinha algum inimigo, ou algum segredo que deixaria sua vida em risco. Não contarei a ninguém, mas entenda, é para que peguemos quem fez isso logo.
- Bem, que eu saiba, ela não tinha nenhum inimigo, nem ninguém que faria tal coisa. Ela era amiga de todos, a única pessoa com quem nunca se deu bem foi a Sra. Wayne, mas ela não faria isso.
- Hum... Qual é o seu nome mesmo?
- Phoebe Newton – a essa altura, sua trança estava quase completa, era linda, como coisas de anjos.
- ok, Phoebe, por enquanto isso é tudo, se precisar posso contar com você?
- Sim, para qualquer coisa. Quero que peguem o filho da @&%$ que fez isso com Mary.
Ao sair do chalé 7, encontrei Logan atrapalhado tentando achar as chaves do chalé 8. Testava várias, e parecia estar confuso. Fui até ele e o ajudei.
- Megan, se não fosse por você eu estaria perdido! – riu ele.
- Hahaha, engraçadinho. Acabei de falar com a melhor amiga da garota e com a professora.
- E aí?
- A professora não estava com o resto do pessoal quando o corpo foi achado, e segundo Phoebe, Mary e ela não se davam bem.
- Parece suspeita, mas está fácil demais...
- Ah, vamos deixar as malas e ir almoçar, estou morrendo por um pouco de comida.
Depois de um almoço divertido, pedi a Phoebe, que havia almoçado conosco, que me levasse até seus companheiros de chalé.
À beira do lago, encontramos John Summers. Deixei Phoebe me esperando e me sentei ao seu lado no píer de madeira.
- Olá – eu disse calmamente.
O rapaz virou-se para mim e tirou o capuz que usava cobrindo a cabeça. Tinha os cabelos castanho-claros e olhos acinzentados. Os óculos até que combinavam com as sardas.
- Me chamo Megan Carter, se você quiser conversar sobre os acontecimentos recentes...
- Ah, você quer dizer a morte de Mary? Não tenho nada a declarar para sua investigação. – disse com um leve toque de ironia.
- Vocês eram amigos?
- Não muito próximos, mas ela era importante.
- Você sabe se alguém tinha motivos para querer matá-la?
- Não moça. – ele recolocou o capuz e permaneceu fitando as profundezas do lago.
No chalé 7 encontrei um garoto e uma garota que Phoebe disse serem Will Skype e Emma Smith.
- Phoebe, tire-o daqui! – gritou Emma
Pelo visto os dois estavam discutindo assuntos amorosos. Conversei com os dois, mas logo vi que eram inofensivos e os descartei da lista de suspeitos. Assim como John.
Conversei com outros alunos também, mas nenhum deles parecia ter um papel na história.
- A professora pode ser uma suspeita por não ter um álibi, mas se fosse por não se dar bem com alunos, as professoras seriam suspeitas número um em casos de assassinato adolescente. – disse Logan – mas eu não descartaria nenhum dos colegas de chalé.
Logan era meu parceiro, mas neste caso ele ficou de fora. Me dava conselhos e estava ali para me ajudar se eu precisasse, mas estava fora do caso.
Após horas conversando com ele sobre o caso, resolvi ligar meu notebook e pedir algumas informações ao nosso assistente na Scotland Yard. Assim que os arquivos chegaram no outro dia, comecei a ler. Neles haviam todo tipo de informação sobre Phoebe Newton, William Skype, Emma Smith e John Summers.
Não li nada de alarmante nos quatro primeiros, até que...
- MEGAN, PHOEBE SUMIU! – Logan apareceu na porta, completamente encharcado devido à chuva.
- Que?
- Ela e John. Emma disse que ouviu gritos.
- Logan, escute uma coisa, John tem distúrbios mentais, sofre de dupla personalidade. Deve ter matado Mary, e provavelmente é isso que quer fazer com Phoebe!
Corremos ao chalé 7 para ver se achávamos alguma pista, mas chegando lá a porta estava trancada, e ninguém estava lá dentro para abrir, então Logan arrombou a porta e nós entramos. Na poltrona onde Phoebe sentou quando estive lá, havia uma foto de duas garotas ruivas, Phoebe e outra garota de sua idade que parecia uma versão minha de 17 anos. Era Mary.
- Logan, ele quer as ruivas, olha.
- Você é ruiva.
Saí correndo na chuva até a casa do dono da pousada.
- SR. TURNER! – gritei enquanto batia violentamente na porta. Meus cabelos ondulados agora estavam lisos e colados no meu rosto.
- Já sei da garota desaparecida, não posso ajudar. Agora quer me deixar dormir?
-Espere. – coloquei o pé da porta para impedir que ele a fechasse – você conhece algum lugar na floresta que dê para abrigar alguém? Uma caverna, talvez, ou uma casinha...
- Tem uma cabana que meu vai costumava guardar seus instrumentos de caça e ferramentas. Está abandonada. Fica a uns 700 metros leste do chalé 10. Talvez menos. – disse ele.
Chamei Logan, e nós, juntos, fomos até a tal cabana. Quando estávamos quase chegando, ouvimos um grito. Caminhamos com mais cuidado.
Ao chegar ao lado da pequena cabana, me abaixei e espiei pela janela. Pude ver John sentado na cadeira (de costas para a janela), encarando uma Phoebe apavorada enquanto permanecia amarrada e deitada no chão frio de uma noite chuvosa.
Phoebe me viu na janela, assim, John pode notar que havia alguém ali. Me abaixei e dei a volta na cabana, e quando achei um buraquinho na madeira da parede fiquei abaixada espiando em silêncio. John não estava mais lá. Com certeza não estava perto de mim, já que Logan, que estava escondido atrás de uma árvore próxima, disse que me faria um sinal se ele se aproximasse.
Vi John correndo atrás de Logan, que não fugiu e fez com que o jovem tentasse bater nele. Em vão, é claro. Corri até a porta da cabana e desamarrei Phoebe e a ajudei a se levantar. Notei que no canto da sala havia uma motosserra, que aparentava ter sido usada recentemente.
- Me larga seu brutamontes! – Logan tinha John preso em seus braços fortes, e enquanto o segurava, eu e Phoebe o amarramos na cadeira.
- Eu sei que as ruivas são lindas e irresistíveis, mas não precisa mata-las, né garoto – disse Logan.
- Eu tive que fazer isso, Phoebe, me desculpe. Mas nosso destino está escrito nas estrelas, ainda vamos ser felizes juntos, só eu e você, nesta cabana. E não matei Mary porque ela era ruiva, seu imbecil.
- Porque então, John? Eu deixei claro que NUNCA iria ser sua. – disse Phoebe, chorando.
- Mas se ela estivesse fora do caminho, ele estaria livre pra mim.
- Ah, Deus, ele é louco.
Nós os levamos de volta à pousada, e no caminho obrigamos John a nos contar o que havia o levado a fazer o que fez.
Bom, ele sempre foi apaixonado por Phoebe, desde antes do colegial, só que Phoebe gostava de Mary, com quem estava namorando em segredo até que a mesma foi assassinada por John quando ele descobriu. Ele achou que se Mary estivesse morta, Phoebe seria dele.
Quando chegamos à pousada uma viatura nos esperava lá. Obviamente, as árvores no caminho haviam sido removidas. John foi preso e tudo ficou aparentemente bem.
- E a professora? Se ela não estava caminhando, onde ela estava? – perguntei a Logan quando voltávamos a Londres.
- Adivinha onde ela estava na hora do crime? No quarto do Sr. Turner. – disse ele gargalhando.
Quando chegamos à Londres tudo parecia ter voltado ao normal. Exceto por uma coisa. Quinzenalmente Logan me leva à praia para tentar me ajudar a superar minha fobia.
Professora Sheila